A Nova Califórnia, videogame de ação e aventura baseado na obra de Lima Barreto, é finalista do Festival do SBGames 2017. Ele já está disponível para ser adicionado à Wishlist da Steam. Conversamos com Tainá Felix e Jaderson Souza, da Game e Arte, produtora responsável pelo “A Nova Califórnia”, sobre o lançamento do game e as relações entre videogame, arte e cultura. Confira a seguir:

[OFICINA LÚDICA] Contem sobre o trabalho que liga jogo, arte e cultura. Como vocês iniciaram essa trajetória?

[GAME E ARTE] Iniciamos nossas atividades em meados de 2009! Desde essa época, ocasião em que realizamos a Pós-graduação em Games pelo Senac e, posteriormente, mestrado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), percebemos o quanto os jogos digitais apresentavam aspectos além do entretenimento.

Enquanto os trabalhos caminhavam na academia, sentimos a necessidade de explorar as possibilidades levantadas com a comunidade. Desde então, os estudos sempre foram acompanhados de muitas vivências. Enquanto os livros apontavam caminhos lógicos e metodológicos, a vivência através dos milhares de atendimentos realizados, desde então, ratificam os games e processos de mediação como excelentes fontes de cultura.

No cerne da educação não formal e informal, bem como mediado por profissionais multidisciplinares, os processos de vivência com games podem promover a construção de múltiplos conhecimentos. E agora, após alguns anos trabalhando com os chamados COTS games – Games comerciais de prateleira, estamos debutando na indústria com o game indie “A Nova Califórnia”. Em sua essência, o jogo traz a mesma metodologia que compreendemos como potente para a construção de saberes a partir dos games!

“A Nova Califórnia” traz em seu escopo muitas referências da cultura brasileira do início do século XX, especificamente da cidade do Rio de Janeiro, o que, a priori, nos fez pesquisar inúmeros pontos, como a arquitetura, a música, os mobiliários e as indumentárias da época. Assim, a experiência estética que os jogadores vivenciam está intimamente ligada a essas referências da formação da cultura brasileira.

 

[OFICINA LÚDICA] Transformar uma obra de Lima Barreto em um game pode ser um desafio, talvez pelo preconceito existente contra a mistura de obras clássicas e entretenimento eletrônico. Vocês sentiram isso de alguma forma? Qual foi a resposta do trabalho de vocês?

[GAME E ARTE] Sim! O desafio é tão forte quanto o peso da obra do genial escritor Lima Barreto. Talvez, este seja o ponto fundamental dessa adaptação.

Em primeiro lugar, buscamos trabalhar o preconceito existente no Brasil quando falamos de literatura. Muitos de nós fomos apresentados ao universo literário de uma maneira que, digamos, não curtimos muito. Ainda, ao observarmos alguns trabalhos diretamente declarados como serious games, verificamos que o foco dos produtos era de simplesmente ensinar. Talvez, por conta de nossa aversão aos processos de educação formal tradicionais, não queríamos fazer desta forma.

Assim, “A Nova Califórnia” busca colocar os jogadores e jogadoras nos sapatos de uma das personagens do conto original. Através da jornada de Bastos, boticário da pequena cidade de Tubiacanga, todos poderão vivenciar o mistério sob o olhar do farmacêutico mais ganancioso do Rio de Janeiro.

Para transformar sua jornada em uma experiência jogável, mesclamos fases de ação e adventure. Enquanto ação, os aventureiros e aventureiras vivenciam o dia-a-dia nada ordinário de Bastos. Enquanto adventure, você é confrontado(a) com questões e princípios dos seres humanos, podendo construir ética ao jogar e conversar com seus amigos e amigas.

Além do design da experiência, a própria comunicação do jogo foi construída com base nas questões enfrentadas entre games e literatura. A promoção do jogo inicialmente foca em elementos da narrativa e jogabilidade. Enquanto isso, as redes sociais receberão conteúdo especialmente construído para promover a discussão de questões éticas relacionadas ao game, estendendo a experiência além do jogo. Já para outros stakeholders, – como agentes culturais, pais, educadores, etc. – prevemos o lançamento, em 2018, de uma DLC para ampliar a experiência em construção de conhecimentos!

[OFICINA LÚDICA] Vocês estarão no SBGames deste ano apresentando “A Nova Califórnia”. Qual a expectativa para o evento e quais os próximos passos?

[GAME E ARTE] “A Nova Califórnia” é finalista do festival deste ano! Esperamos conhecer muitas pessoas e apresentar-lhes o novo jogo para PC da Game e Arte. Após 4 anos de desenvolvimento, estamos muito felizes com o feedback recebido e cheios de energia pra cada vez fazermos melhor!

O jogo será lançado em novembro, mês da Consciência Negra! Uma ótima pedida pra conhecer o nosso primeiro autor que se autodeclarou negro: Lima Barreto!